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A Menina que Vendia Castanhas

Numa manhã nebulosa e fria, fazendo o meu trajeto matinal, de automóvel, lembrei subitamente de um livro de histórias que eu possuía, na minha infância… Dessas lembranças que afloram de repente, parece que para nos cobrar alguma coisa, e vão-se embora, sem maiores explicações. Era uma história de uma menina, um daqueles desenhos em que os olhos do personagem são desproporcionalmente grandes, redondos e vivos: ela vendia castanhas num local onde nevava. As pessoas passavam, caíam flocos de neve e ela oferecia, desde seu carrinho onde ardia um pequeno lampião, castanhas… Uma paisagem exótica para uma criança brasileira; um mundo onde tudo parecia distante, misterioso e belo. E eu sonhava e sonhava com um mundo onde tudo fosse assim:magia e beleza.Hoje, quando minha vida já dobra sua quinta década, a menina volta para me visitar, numa manhã nublada, talvez para perguntar: o que você fez com seu sonho? Pensativa diante dessa desafiadora pergunta, baixo a janela do meu carro, que desce devagar, revelando o meu mundo. Continua não nevando nele… mas há, no meio de carros excessivamente apressados e barulhentos, um tronco de árvore cortado, que se inclina para frente, como se quisesse vencer sua imobilidade e avançar… há um…

Preguiça….Eu?

Em geral, definimos preguiça como lentidão e demora em realizar as coisas. Atraso: Deixar tudo o que se está a fazer para realizar-se mais tarde. Lentidão: Demora exagerada para fazer algo que deve ser feito de imediato. É fácil imaginar a preguiça relacionada: com os nossos movimentos do nosso corpo, com a frouxidão com que se enfrentam as ações, com o tempo excessivo utilizado num alvo que, pela mesma razão, é cada vez mais demorado. Mas a preguiça plasma-se em outros planos da personalidade. Não afeta tanto que chegue a paralisar os sentimentos e os pensamentos. Mas só se sente e pensa-se naquilo que é confortável e agradável, aquilo que não requer esforço e constância. O conforto psicológico é o elemento determinante desta forma de preguiça: evitar qualquer confrontação. O que faz o preguiçoso? Sabe que tem várias situações emocionais que tem de definir ou resolver, mas não quer vê-las. Considera que o tempo irá apagar as nuvens da sua paisagem emocional e, mais tarde, vai ficará resolvido. Quando não se tem escolha, ao lidar com essas situações, facilmente fica irritado, agride aqueles que se atrevem a mostrar-lhe o que não quer aceitar, e faz da ira uma fórmula paliativa…

Para que tua Alma Cresça

Não me refiro ao teu Espírito Divino que, por sê-lo ser divino, não pode crescer nem decrescer, nascer nem morrer, mas àquela parte superior em nós a qual chamamos comumente de Alma. É sabido por todos que o exercício físico, por exemplo, desenvolve os músculos, e, que qualquer aprendizagem deve ser feita com base na tenacidade em exercitar aquilo que queremos fazer crescer, seja o domínio de um idioma ou o de uma máquina qualquer. Da mesma maneira, se queres fazer crescer tua alma tens de exercitá-la, incansavelmente, todos os dias. E para isso não são imprescindíveis os exercícios especiais, basta uma reta atenção, naturalmente orientada ao espiritual. Quando observares o fototropismo das folhas de uma planta ou a casca das árvores, trata de captar aquilo que está mais interiormente colocado, o que é o motor e a causa do que superficialmente vês. Acostume-te a sentir as mãos de Deus através do teu entorno, estudando cuidadosamente todas as coisas, com a pureza e a inocência de uma criança. Acostuma a te deter várias vezes por dia ano teu trabalho e afã, para te dedicar, embora seja por uns poucos minutos, a observar. Deixe teu corpo quieto e em uma posição…

Como Massinha de Modelar…

Ninguém se esqueceu, penso, das massinhas de modelar com que brincávamos na nossa infância; alguns, como eu, se reduziam a fazer bolinhas coloridas, mas os mais habilidosos chegavam a pequenas esculturas muito graciosas; bons momentos foram passados ao lado deste brinquedo. Também chega a ser bem óbvio que continuamos, em outras fases da vida, “modelando” outras “massinhas”, às vezes bem mais sutis, como pensamentos e sentimentos, nossos e alheios, até as substâncias mais concretas, como palavras e atos. Também poderíamos medir a nossa habilidade para lidar com estas substâncias pela galeria de “produtos” que vamos deixando para trás, dentro e fora dos outros e de nós. Isso constitui nossa história, nossa memória, a síntese do que deixamos registrado na vida. Lindas manhãs de sol são bem conhecidas como ótimas para nos chamar a atenção para pequenas belezas desapercebidas, como pássaros, flores etc. São comuns os textos idílicos sobre estas coisas. O que gostaria de questionar é se estas e todas as demais coisas, enfim, em todos os planos, também não são o rastro de alguém, que deixou registrado, para todos os lados, sua própria história. Será que existiriam as coisas sem que nada tivesse passado e deixado marcas nesta amorfa…

A Realização de um Sonho Milenar

Evidentemente, a presente geração deste espantoso século XX teve o privilégio de assistir à chegada à Lua. Dizemos privilégio, pois, ainda que novas façanhas superaram muito rapidamente este acontecimento, o fato tem uma enorme dimensão e serão necessários anos para compreende-lo e valorizá-lo em seu verdadeiro tamanho. Durante milênios, a conquista da Lua constituiu um dos maiores sonhos de toda a Humanidade. O fato de que milhões de seres humanos puderam acompanhar o fato através das telas da televisão não poderia nunca ter sido previsto. A realidade superou o sonho. Em certa medida, todos ficaram tão consternados com a conquista da Lua que ainda não estamos completamente convencidos de que seja verdadeiro. Sem chegar ao mérito se valia ou não o imenso esforço realizado e a fabuloso investimento dispendido, além da utilidade pragmática desta conquista, encontramos o assombro… e, até certo ponto, o desconcerto. Aplicações da Conquista Espacial Ainda que seja prematuro predizer em que medida estas conquistas se traduziram em beneficio à Humanidade, é evidente que se abriram campos novos a aplicação de certos descobrimentos científicos e técnicos. Satélites meteorológicos e de comunicações rendem excelentes frutos e não parece longe o dia em que teremos laboratórios em órbita no…

A Solidão e seu Papel

Faz parte do viver nos sentirmos, com certa frequência, solitários. No passado, antes do advento da eletrônica, uma pessoa não tinha outro remédio que ficar só nos momentos em que não pudesse ter companhia, e então, sem ninguém mais para conversar, só podia ter a si mesma como companheira: seus pensamentos e sentimentos, suas dúvidas e seus medos, suas certezas e confianças.

Como Fazer Alquimia

Gostaria de aprender uma receita básica de Alquimia? pois aí vai: comece por misturar um finalzinho de tarde ensolarada de domingo com a Missa Brevis, de Palestrina. Feita a mistura, coloque-se, então, frente a uma janela, bem aberta, sem vidros ou cortinas, em absoluta paz e silêncio, e respeitoso vazio de pensamentos. Simplesmente esqueça de si por alguns momentos, entendendo bem que esquecer de si é esquecer também de todos os julgamentos prévios que habitualmente despejamos sobre as coisas. Apenas corpo e alma limpos e olhos e ouvidos bem abertos. Agora, começa a magia: veja as coisas. Veja como salta, vivo e vibrante, o verde das folhas…como se movimentam, soprados por um fresco hálito que circula em tudo, às vezes com movimento suaves, às vezes intensos e alegres, como as alternâncias das vozes, que se enlaçam, em seus cantos de louvor. Veja o céu: como o azul suave, cheio de nuances das luzes do poente, sugere a mais perfeita e plácida paz, num contraste que é quase perplexidade ante a volúpia da terra… Veja como a luz se projeta nas coisas, nos cantos, em pequenos e dourados raios e reflexos, brinquedo de esconde-esconde, que, às vezes, nos surpreende em um…

Eu Acredito em Príncipes e Princesas, no Amor… e na Vida

Quando era pequena, amava aquela passagem do Peter Pan, onde a Sininho falava que, cada vez que alguém dizia não crer em fadas, uma fada morria. Batia palmas, energicamente, junto com Peter Pan, para que ela voltasse à vida, e vibrava quando ela alçava voo, espalhando pó de pirlimpimpim para todos os cantos. Num desses dias, escutava uma jovem que, ao se lamentar pelo aparente fracasso em seu relacionamento, usou uma frase fatal: “Já não sou mais uma menina para acreditar em príncipes encantados montados em cavalos brancos e em amor eterno… já me conformei com a realidade!” Acho que o pó de pirlimpimpim, tantos anos adormecido dentro de mim, despertou e soltou faíscas diante disso: como assim? que realidade? Que as paixões morram, acho natural, pois buscam coisas tão superficiais que já nascem meio mortas; tão instintivas, que parecem mais anseios do cavalo que do príncipe; tão densas e carregadas de fantasias, que parecem partir mais do fígado do que do coração… são mesmo fugazes, as paixões. Mas por que devem carregar consigo o Amor? Quem disse que elas suportariam tal peso? “Mas os fatos comprovam…” diria a nossa jovem… quem disse que a realidade se mede por fatos?…

A Alma

Há um belo mito, deixado pelo filósofo grego Platão, sobre a origem das almas humanas e sua natureza. Conta Platão, em seu diálogo Fedro, que no início de nosso mundo participamos de uma corrida grandiosa junto aos Deuses. Cada alma humana consistia de uma carruagem, puxada por dois cavalos alados. Um dos cavalos possuía natureza divina e virtuosa; o outro, de natureza animal, índole rebelde e passional. As carruagens se puseram em fileiras, lideradas pelos principais deuses do Olimpo, na corrida rumo ao Céu de Uranos, o Céu da Perfeição, dos Arquétipos Celestes. Iniciou-se a corrida divina. O filósofo descreve esse cenário de forma fantástica para o nosso imaginário: os deuses perfilados, majestosos, em seus cavalos de longas asas luminosas, dirigindo-se ao alto, seguidos pelas almas humanas, em seus pequenos carros. As longas fileiras descreviam espirais, rumo à abóbada celeste. As almas humanas encontraram dificuldade para acompanhar os Deuses, pois um de seus cavalos, o de índole difícil, de asas curtas, dirigido pelos impulsos instintivos, não obedecia aos comandos do condutor. Enquanto que seus cavalos de natureza pura e divina, naturalmente dirigiam-se ao alto, atraídos por um poder fenomenal. E, inevitavelmente, num dado momento, um a um, os carros humanos…

A História se Repete?

Muitos foram os estudiosos da História e os analistas em diversas disciplinas – sem contar os milhares de interessados na questão – que se fizeram esta pergunta. É evidente que não se pode responder de maneira simplista e que optar por um sim ou por um não requer um mínimo de considerações. Justamente as que nos propomos fazer da maneira mais humilde nestas páginas. Responder, sem mais nem menos, que a história se repete exige provas muito concretas, e nem sempre dispomos delas, ou seja, de que um fato é a repetição de outro. E do ponto de vista filosófico se cria o problema de que quanto mais repetições, menos possibilidades de evoluir. Que papel exerce o livre arbítrio dos seres humanos se tudo, cedo ou tarde, volta a passar pelos mesmos pontos? Ir ao outro extremo e afirmar que a história não se repete exige não somente provas de constante originalidade nos fatos, mas falta de visão para não perceber semelhanças altamente significativas. Dizemos semelhanças, não igualdades, pois o exatamente igual é a reprodução a que antes nos referíamos, enquanto que a semelhança permite pequenas variações quanto a matizes, que são as que mais nos interessam. O mais provável…