Mais uma manhã, tarde e noite, indo e voltando, com carros que passam voando por mim. Um dia, minha filha me falou que as pessoas deveriam colocar o número do seu celular no vidro… “- Para quê, minha filha?”, perguntei, sem captar o tom levemente irônico na voz: “- Para ligarmos e sabermos se deu tempo, mãe! Deve ser muito urgente o que ele vai fazer!” É verdade; deve ser mais do que urgente: deve ser desesperador. Sem bairrismos, Brasília deve ter alguns dos mais belos amanheceres e crepúsculos do mundo; sempre se pode ouvir algum sabiá dobrando o trinado, pelo caminho; sempre se vê algum cãozinho desocupado rebolando de barriga para cima na grama úmida (deve ser muito bom, isso!). Mas nós….temos pressa. Não vou aqui delinear o óbvio, que todos já preveem: a maioria absoluta não tem pressa nenhuma. Correm para a televisão, para a mecanicidade, para o sono, para a solidão. Não há alvo a alcançar com essa correria; em geral, nada que seja urgente ou que tenhamos sabido tornar importante. Depois de anos sem entender e nem mesmo me perguntar pelas razões disso, acabei convidada, pelas circunstâncias, a uma resposta. Numa estrada vazia, um caminhão seguia…