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Independência ou Morte

Se existe um tema caro ao nosso tempo, é o da independência e da liberdade, cantados em AM e FM com um dos maiores, senão o maior objetivo da vida. À parte a consideração de que ter um valor como sentido de vida já é algo de raro e louvável, não posso deixar de me perguntar, porém, do que é, de fato, que as pessoas querem tanto se libertar. O filósofo Platão costumava falar que quem fala muito de comida, deve estar faminto… e quem fala tanto de liberdade?

Claro que surgirão as sempre pertinentes colocações da lista interminável de tiranos que submeteram e submetem a humanidade, em todos os tempos, e que provocam com justiça nossa indignação: de caráter político, religioso e etc. etc. Mas, se me permite a “liberdade”, vamos ser objetivos? O que submete você, agora, aqui, neste momento? Trocando em miúdos, o que te impede, de fato, agora, de ser alquilo que gostaria de ser, ou seja, de realizar seus sonhos?

Para não dizer que faço perguntas constrangedoras e que não obedece ao clássico preceito do ensinamento mediante o exemplo, vou tomar a iniciativa e vou te dizer quais foram os principais “tiranos” com os quais tropecei na vida, ou seja, que me impediram de caminhar e me realizar na velocidade e medida com que sonhava: a desorganização, a preguiça, a impulsividade (que cruel, esta!), a falta de paciência comigo e com os demais, a falta de aceitação do ponto de partida que a vida me oferecia, o excesso (pra não dizer que só falei de faltas!) de tagarelice mental, de instabilidade emocional etc. etc. Ufa, um verdadeiro exército, uma turma boa de briga… e de algemas. Nem resumindo todos os desafetos da minha vida inteira, conscientes ou não, conseguiria somar o prejuízo que apenas um desses me causou.

Jean-Paul Sartre costumava dizer: “O inferno são os outros…” Neste caso, parece que o cárcere… também são os outros! Será mesmo? Já sei, já sei: embutidos nas minhas limitações, estão os traumas as feridas que os demais me causaram; portanto, eles são os “responsáveis”. Assim como, por trás do leite derramado, está “embutido” o leiteiro desastrado… mas isso não nos isenta da responsabilidade de tomar o pano e o rodo e e limpar o bendito leite que se espalha e suja o chão. Além do mais, havia outras pessoas por aqui quando passou o desnorteado e pobre leiteiro, mas ele esbarrou apenas em você… por que será?

Esperar que o universo, que, por definição, é dual, supere essa “fraqueza”, para que só haja leiteiros atentos, pessoas gentis e bem intencionadas e dias suavemente temperados, é fantasia e fuga. Se é que isso pode ser chamado de “fraqueza”, não está bem dentro do nosso departamento corrigi-la. Já a nossa fraqueza, essa sim, está bem no nosso escaninho trabalho mais próximo. “Escravo é o que luta contra o que não depende dele e, no que depende dele, nada faz”. Frase do filósofo Epíteto, que (curiosamente!), era um escravo romano. Pelo visto, não levava esse título muito a sério.

Protestar pela liberdade: que boa ideia! Vou fazê-lo hoje mesmo, da forma que me parece mais urgente e premente: tomarei o mais vermelho dos meus batons e escreverei em letras garrafais, no meu espelho: “Reaja! Reaja! Reaja!”. Se necessário, tenha batons vermelhos em estoque para emprestar, se quiser dar vazão à sua justa indignação libertária.

Verdade seja dita: “Independência ou morte” é um bom lema. Todos morreremos um dia; será que não abateremos nenhum obstáculo interno, antes disso? Lembro-me dos clássicos do faroeste onde o protagonista desafiava os inimigos, ousado, com as mãos nas cartucheiras: “Posso morrer, mas levarei muitos comigo!”. Muitos? Bem, não sou exatamente John Wayne… mas um ou dois, pelo menos… quem sabe?

“Procura a satisfação de veres morrer os teus vícios antes de ti…” Sêneca

Prof. Lúcia Helena Galvão