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A Vênus de Milo e a Vitória da Samotrácia

São obras do período helenístico, guardadas no Museu do Louvre, em Paris. Realizadas em mármore pentélico e de Paros, resumem as expressões corporizadas de duas deusas: Niké e Afrodite. Resumem também dois recônditos mistérios que torturam, acompanham e glorificam a humanidade desde a sua aparição na Terra: a Guerra e o Amor. Neste mundo superficial, onde a pouca profundidade substituiu a guerra pela briga e o amor pelo sexo, as duas imagens fabulosas nos levam a nossos ancestrais puros e formidáveis. Nenhuma das dois pode ser compreendida pelo turista apressado; é necessário meditar pelo menos uma hora ante cada uma delas para preencher-se com suas essências. A Vitória, dorso de mulher envolta em túnicas revoltas pela humanidade e pelo vento e sustentada por poderosas assas, de pé, na proa de um navio de pedra nos fala do triunfo sobre o mal, de gloria e de ascensão através de um ideal inegoísta e sublime. É a Guerra Sagrada, o triunfo sobre a escuridão, a ignorância e o medo. A seu lado sentimos o fragor dos gritos dos remadores encantados pela aventura, remando sem porto, pelo mar, de vento cruzado com o gemido augural das gaivotas. Abaixo ruge o Oceano negro; acima…

A Fortaleza Diante das Dificuldades

Quando se iniciou 2020, não sabíamos ainda o alcance dos momentos difíceis que viveríamos. Ao cabo de pouco tempo, se expandiu uma pandemia que afetou a maioria dos países – senão todos –, demonstrando que, nestes casos, o que consideramos diferenças não existem. Todos somos seres humanos, todos somos vulneráveis à enfermidade, e a dor afeta a todos nós. Diariamente vemos, com assombro e pânico, a quantidade de pessoas afetadas pelo coronavírus, o número crescente de mortos; embora muitos se recuperem, o número dos que morrem é assustador. É tão grande que, às vezes, não vemos mais que números e esquecemos a dor daqueles que se vão na solidão de um hospital ou em lugares piores, na tristeza daqueles que não podem se aproximar nem se despedir de seus seres queridos. Não vemos, por mais que repitam, a entrega incansável daqueles que se esforçam em salvar vidas, em elevar o ânimo daqueles que se sentem desamparados. Verdadeiros modelos de Fortaleza. Evidentemente, são momentos difíceis e, sobretudo, momentos especiais que colocam à prova nossos valores interiores. Saber sofrer não é fácil, mas, se há fortaleza, o sofrimento se converte em uma potência enorme, que desconhecíamos e nem sabíamos que podíamos desenvolver.…

Giordano Bruno, mártir da ignorância humana

Em 27 de janeiro, nasceu Mozart, o compositor; em 17 de fevereiro, morreu Giordano Bruno, o filósofo. Do primeiro, pouco se precisa falar: todos lembram do prodígio que, ao cinco anos de idade, compunha e dava concertos ao piano. Nem todos lembram tanto, porém, do segundo, filósofo condenado à fogueira por heresia e executado em 1600 por afirmar, entre outras coisas, a existência de infinitos mundos, alguns possivelmente habitados, como o nosso, e a eternidade da Alma do Mundo, que se renova ciclicamente sobre a terra, tomando corpo em todos os seres. Ambos dignos de um espaço nobre na admiração e na memória dos homens. Mas gostaria de enlaçar a ambos de uma forma curiosa e inusitada: falando a respeito de um personagem de Mozart, em sua mais famosa ópera, intitulada “A Flauta Mágica”. Bem resumidamente, a simbólica obra fala de um príncipe, nobre e virtuoso, Tamino, que busca conquistar sua alma humana, representada pela princesa Pamina, e o faz após passar por difíceis provas, conduzidas pelo sacerdote Zarastro. Em grande parte de sua jornada, o herói é acompanhado por um humorístico personagem, Papageno, caçador de pássaros que em nada se interessa pela busca da sabedoria ou de mistérios; quer…

Era uma vez um rio

Era uma vez um rio – diz uma velha tradição oriental – que corria mansamente no seu cômodo leito de barro. As suas águas eram turvas e nelas viviam peixes da cor do chumbo que buscavam o seu alimento no lodo. Como era muito pouco profundo, nenhum ser humano ainda se tinha lembrado de fazer uma ponte sobre ele, conformando-se apenas em colocar algumas pedras no seu leito que improvisavam caminhos umidificados pelas lentas águas. Os animais dos bosques vagueavam pelos lugares menos profundos, revolvendo as entranhas do rio com as suas patas. Para beber iam ao lago mais próximo, porque as águas do rio eram escuras e cheiravam mal.

A Estabilidade na Crise

Poderia parecer que a crise que sacode nossa civilização neste momento, em todos os rincões do planeta e em tantas frentes de expressão, é algo próprio de nosso tempo e apresenta uma grandeza excessiva. No entanto, com olhar atento, encontraremos crise em qualquer momento da História, e comprovaremos que os filósofos sempre examinaram seu sentido mais profundo. O uso reiterado e superficial das palavras as faz perder seu valor intrínseco. Hoje se interpreta como crise uma ruptura dolorosa, relacionada com o sofrimento e a perda em geral. Mas o conceito mais genuíno da palavra crise é “mudança”. Às vezes, se trata de uma mudança brusca, que modifica situações de diversas naturezas: materiais, morais, históricas, espirituais. É incomum que em uma crise se modifique somente um aspecto da vida; normalmente, diante de uma virada histórica importante, coincidem muitas mudanças simultaneamente. É preciso construir ou manter a estabilidade em todos os aspectos do ser humano e em todos os fatores que constituem uma civilização.Quanto ao aspecto civilizatório, buscar soluções materiais, quando decaem os valores morais, intelectuais e espirituais, é como preparar um banquete enquanto irrompem vulcões e tormentas ao redor.Com respeito ao aspecto humano, lutar pela preservação da subsistência física, menosprezando a…

Triunfar na Vida

A história é um extraordinário mostruário onde aparecem, como cristais de cores que variam de tonalidade segundo a luz, as diferentes ideias que configuraram os estilos de vida do homem. Cada período tem seus parâmetros e, no caminho incessante da busca, os humanos regem-se por esses modelos, tratando de segui-los e obedecê-los, tanto quanto não fariam com nenhuma outra ideia que proviesse de outra fonte. O comumente aceito é lei e, de acordo com o transcurso dos tempos, há aceitações que têm mais valor do que leis. Assim, em todo momento, o êxito foi uma meta, ainda que nem sempre tenha se considerado o êxito de igual maneira. O que assinalava o triunfo há um século, ou algumas décadas atrás, hoje pode bem parecer uma ideia desfocada e fora de moda, considerando que outras ambições tomaram o lugar das anteriores. Uma só coisa permanece: o desejo de sucesso, a necessidade de triunfar, a vontade de sermos aceitos e levados em consideração pelos demais, ajustando-nos à lei que faz do conjunto – nós e os demais – uma massa coerente na qual não se pode sobressair, nem sequer para encontrar esse sucesso por outros caminhos. As estatísticas ocupam páginas e páginas…

Saúde para a Alma

À medida que cresce no mundo todo o tipo de preocupações; à medida que as condições de sobrevivência tornam-se mais difíceis em muitos países; à medida que aumentam os confrontos pelos motivos mais absurdos, por mais importantes que até pareçam; apesar de tudo isto, aumenta a ansiedade na procura de uma saúde melhor. Claro que esta situação não é assim em todos os lugares da Terra. Como obter uma boa saúde quando em tantos casos quase não existe água nem alimentos, quando terríveis epidemias surgem quase sem saber de onde vêm? Referimos, no geral, aqueles países chamados desenvolvidos, onde também é difícil manter-se economicamente dentro de limites aceitáveis, nos quais, no entanto, a saúde tornou-se numa constante inquietação. E não apenas a saúde, mas também a alimentação. Assusta observar que enquanto centenas de pessoas fazem “malabarismos” para que o dinheiro chegue ao final do mês, existe uma abundância de excesso de peso e obesidade começando pelas crianças. Há quem, em contrapartida, faça da extrema magreza uma moda fascinante. Decididamente, tornamo-nos contraditórios, ou não queremos analisar aquilo que se passa à nossa volta. Vamos à melhor das situações, ou seja, ter a oportunidade de encher a cesta de compras domésticas. Estamos…

Problemas Pessoais no Caminho do Conhecimento de Si Mesmo

Quais são os problemas pessoais que surgem no caminho do conhecimento de si mesmo? Evidentemente, os que afetam a personalidade, compreendendo o conjunto de expressões físicas e vitais, emocionais e mentais. Sem menosprezar a dor de uma doença ou de um problema físico mais ou menos permanente, as circunstâncias emocionais são mais decisivas, ao ponto de serem elas que condicionam o pensamento e até mesmo a disposição física. É sabido que em mais de uma ocasião, um grande desgosto reflete-se de imediato no corpo de uma forma ou outra, enquanto bloqueia a mente para todo o raciocínio lógico e sensato. Porque temos estes problemas pessoais, basicamente emocionais? Por falta de conhecimento dos próprios mecanismos emocionais e, por conseguinte, pela impossibilidade de resolver as situações conflituosas que se apresentem. A nós, todos os humanos que vivemos neste mundo, por uma ou outra razão, apresentam-se-nos dificuldades. É algo lógico se concordarmos com os filósofos clássicos em que a vida se encarrega de nos ensinar a viver. E não é um jogo de palavras. Podemos aprender com experiências e conselhos de outros, podemos estar prevenidos em relação às conjunturas da existência, contudo nada se equipara à prática vital de tudo o que aprendemos.…

Para Onde?

Diz um velho e conhecido aforismo que assim como é embaixo é em cima. Sendo o inverso também válido, assim como é em cima é embaixo ou, o que é igual, o grande e o pequeno contêm semelhanças em sua essência. Isto, e os muitos e variados acontecimentos que os meios de comunicação nos trazem diariamente, levam-me a pensar que entre a Terra e o ser humano há uma relação inegável e que ambos vivem processos semelhantes. Na Terra, coexistem zonas de grandes inundações junto a outras de terríveis secas. Os vulcões se estremecem frequentemente, expelindo lava ou fumaça, enquanto que em alguns outros pontos do planeta restam ainda locais ocultos de extrema beleza, não maltratados pelo vandalismo turístico, nos quais tudo é tranquilidade e silêncio. No Homem existem zonas secas, partes da alma onde, se alguma vez houve flores, hoje não resta nada, porque os sonhos morreram. E também há regiões inundadas por emoções sem controle, ansiedades transbordadas, medos sem limites, correntes ingovernáveis sem nome específico; inundações que nem sempre se restringem ao subconsciente, senão que afloram como forças cegas, impossíveis de dominar. As dores, as ambições e as iras humanas tremem como os vulcões; seus instintos rugem sacudindo…

O Sentido da Beleza

“Quando há um sentido de beleza, tudo o que se faz obedecendo a esse sentido belo será. Da mesma forma, ao haver um sentido de virtude ou de retidão, a medida que se entra em ação, tudo que se faz, pensa ou sente é correto e belo”. Estas palavras tão inspiradoras, e todo o artigo do mesmo autor, são uma ode à beleza em seu aspecto mais elevado, como uma forma de se afastar dos problemas cotidianos e deixar que a alma respire livremente. Em primeiro lugar, é necessário esclarecer que quando nos referimos ao “sentido” da beleza, não nos referimos a nenhum dos cinco sentidos habituais. Este é um “sentido interno”, para lhe dar um nome, que está mais relacionado com as percepções interiores e com a intuição. Esse sentido nos traz várias perguntas e também considera a Beleza sob vários ângulos, tão sutis que as palavras sempre serão pobres para expressar. O que é a Beleza? Poderíamos defini-la de uma maneira que pudesse ser válida para todas as pessoas? Não, é quase impossível defini-la porque cada um faria de uma forma diferente, de acordo com sua própria personalidade, a variação dos seus estados de ânimo, suas experiências, suas…