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Afinal, o que é o Humanismo?

Neste domingo, 11 de setembro de 2016, o “Correio Braziliense”, um periódico da capital federal, publicou uma reportagem de destaque, em duas páginas centrais inteiras, sobre o tema “Afinal, o que é o humanismo?”. O que me surpreendeu um pouco foi o fato de que o tema, que é eminentemente filosófico, não tenha tido nenhum filósofo entre os entrevistados; havia desde políticos, atores, psicólogos, músicos etc. As abordagens, até certo ponto, eram parecidas: foco na inclusão social e na não discriminação das diferenças, tema da moda… Mas os filósofos não participaram desta “inclusão”! Bem, como não fui entrevistada e estou escrevendo na minha própria página, posso me dar ao luxo de fazer a abordagem que quiser, ainda que “fora de moda”. Acredito que tanto o renascentismo quanto o iluminismo e outras correntes e pensadores não colocaram o foco no “humano” para excluir Deus ou outro assunto qualquer, mas para entendê-lo em profundidade. Vindo do latim “humus”, terra, o ser humano necessita, como todos os seres, de encontrar o seu lugar nesta terra que o gerou, pois todos os seres se realizam sendo aquilo que lhe corresponde, ou seja, realizando o seu ideal. Pensamento platônico, sim, mas bem atual. As plantas,…

A Primavera e a renovação

Tornou-se quase que um lugar comum falar de primavera como renovação: das flores que voltam, da alegria da natureza, sempre ao som das “Quatro Estações” de Vivaldi ou assistindo “Fantasia”, do Disney. Por que um filósofo viria questionar este cenário idílico? simplesmente porque os filósofos acreditam que, assim como todas as coisas se renovam naqueles seres a quem pertencem, a reflexão também deve ser “renovar” nos homens. Renovar parece palavra simples, mas tem umas entrelinhas complicadas e enganosas. Pelo dicionário, significa “fazer com que (algo) fique como novo” ou “volte a ser como novo”. Bem, uma flor, quando nova, é como um foco para onde convergem todos os olhares, pela sua beleza, cor e graça; ela mesma, não volta jamais a ficar assim, mas a natureza produz outras, na próxima primavera… idênticas? quase. Num passar de dezenas anos, são muito parecidas, a cada ciclo; em milhares de anos… já começam a se modificar, lentamente. O que deduzir disso? A flor, como indivíduo, não se renova; a natureza, como coletividade, sim. E aí, entramos na peculiaridade da condição humana: interessa-nos a individualidade, e não apenas a nossa imersão inconsciente na marcha do coletivo. Interessa-nos (ou deveria nos interessar!) crescer por mérito…

Saudação à primavera

A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega. Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores. Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende. Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol. Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores,…

É Preciso Não Esquecer Nada

É preciso não esquecer nada:nem a torneira aberta nem o fogo aceso,nem o sorriso para os infelizesnem a oração de cada instante. É preciso não esquecer de ver a nova borboletanem o céu de sempre. O que é preciso é esquecer o nosso rosto,o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso. O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,a idéia de recompensa e de glória. O que é preciso é ser como se já não fôssemos,vigiados pelos próprios olhosseveros conosco, pois o resto não nos pertence. Cecília Meireles

Sugestão de livro: Apologia de Sócrates, de Platão

“Pois que, ó cidadãos, o temer a morte não é outra coisa que parecer ter sabedoria, não tendo. É de fato parecer saber o que não se sabe. Ninguém sabe, na verdade, se por acaso a morte não é o maior de todos os bens para o homem, e, entretanto, todos a temem, como se soubessem, com certeza, que é o maior dos males. E o que é senão ignorância, de todas a mais reprovável, acreditar saber aquilo que não se sabe? Eu, por mim, ó cidadãos, talvez nisso seja diferente da maior parte dos homens, eu diria isto: não sabendo bastante das coisas do Hades, delas não fugirei. Mas fazer injustiça, desobedecer a quem é melhor e sabe mais do que nós, seja deus, seja homem, isso é que é mal e vergonha. Não temerei nem fugirei das coisas que não sei se, por acaso, são boas ou más.”Trecho do livro. Nesta obra Platão escreve sobre Sócrates, seu mestre. Mais que contar sobre suas virtudes e ensinamentos, Platão conta como foi seu julgamento, sentença e morte, mostrando também os motivos que o levaram a aceitar a pena de morte mesmo depois de lhe ter sido concedido exílio do país…

O Sol em nós

Nesta tarde quente de verão é um pouco difícil lembrar, devido ao desconforto do clima, que ainda se é filósofo. Minha intenção é referir-me a um fenômeno da natureza e a esse sol que, de uma forma ou de outra, podemos fazer nascer dentro de nós. Há poucos dias, me perguntaram em uma entrevista se nós, filósofos, paramos de trabalhar no verão. Tentei explicar que quando alguém é filósofo, ama a sabedoria e sente inquietudes interiores, isso não se detém com o verão, continua por toda a vida.