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Saudação à primavera

A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega. Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores. Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende. Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol. Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores,…

É Preciso Não Esquecer Nada

É preciso não esquecer nada:nem a torneira aberta nem o fogo aceso,nem o sorriso para os infelizesnem a oração de cada instante. É preciso não esquecer de ver a nova borboletanem o céu de sempre. O que é preciso é esquecer o nosso rosto,o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso. O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,a idéia de recompensa e de glória. O que é preciso é ser como se já não fôssemos,vigiados pelos próprios olhosseveros conosco, pois o resto não nos pertence. Cecília Meireles

A Verdadeira Poesia

A poesia, como tudo que é importante na vida, é difícil de definir. Este trabalho seria infindável se tratássemos de apontar as características certas ou falsas que, desde o fundo da nossa história conhecida, foram dadas à poesia. Hoje, sabemos que os Egípcios, os Sumérios e os Chineses – para citar alguns exemplos do passado remoto – faziam poesia e davam-lhe a maior importância. Na Índia milenar, os textos mágicos e religiosos mais antigos estão originalmente escritos em forma de poema, como o Mahabharata, que compreende no seu próprio interior o imortal Bhagavad Gita e o Uttara Gita. Os antigos concebiam todo o universo como sendo harmônico, regido pelos números e pelas proporções de ouro. Isto refletiu-se na ordenação dos sons, os quais alternados com os silêncios, deram origem à música, ao canto e à poesia, todas elas expressões do Homem que tratou, desde sempre, de fazer surgir da sua Alma as misteriosas sementes que os deuses tinham depositado nela, para uma melhor e mais justa compressão de si mesmo, da Natureza e de Deus. Mas como o modelo que podemos chamar “clássico” tem por característica unir o bom, o belo e o justo – conforme afirma o divino Platão…