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A Alma

Há um belo mito, deixado pelo filósofo grego Platão, sobre a origem das almas humanas e sua natureza. Conta Platão, em seu diálogo Fedro, que no início de nosso mundo participamos de uma corrida grandiosa junto aos Deuses. Cada alma humana consistia de uma carruagem, puxada por dois cavalos alados. Um dos cavalos possuía natureza divina e virtuosa; o outro, de natureza animal, índole rebelde e passional. As carruagens se puseram em fileiras, lideradas pelos principais deuses do Olimpo, na corrida rumo ao Céu de Uranos, o Céu da Perfeição, dos Arquétipos Celestes. Iniciou-se a corrida divina. O filósofo descreve esse cenário de forma fantástica para o nosso imaginário: os deuses perfilados, majestosos, em seus cavalos de longas asas luminosas, dirigindo-se ao alto, seguidos pelas almas humanas, em seus pequenos carros. As longas fileiras descreviam espirais, rumo à abóbada celeste. As almas humanas encontraram dificuldade para acompanhar os Deuses, pois um de seus cavalos, o de índole difícil, de asas curtas, dirigido pelos impulsos instintivos, não obedecia aos comandos do condutor. Enquanto que seus cavalos de natureza pura e divina, naturalmente dirigiam-se ao alto, atraídos por um poder fenomenal. E, inevitavelmente, num dado momento, um a um, os carros humanos…

O Símbolo de Gilgamesh – O Homem Que Não Podia Morrer

O tema de hoje, obviamente, estudamo-lo de uma forma técnica na cadeira de Fenomenologia Teológica (Religiões Comparadas da Nova Acrópole). Estudamos as traduções dos rolinhos e tabuinhas sumérias, babilónicas, etc., que esses homens do terceiro e do quarto milénio antes de Cristo nos deixaram. Nesse legado encontrámos referências ao Mito de Gilgamesh. Vamos analisar este mito sob o ponto de vista simbólico e não tão técnico, de maneira a que possa interessar a cada um de nós. Pessoalmente, creio que não só na história dos símbolos, mas também na história dos acontecimentos humanos, o mais importante não é captar a parte técnica ou formal – porque o técnico e formal passa – mas captar o espírito, captar os motores que puderam mover os acontecimentos históricos, quer seja na parte material, económica, política, espiritual. Refiro-me àquela parte que sobrevive em nós como humanidade e que é sempre fresca e atual. Então, Gilgamesh, não vai ser para nós somente aquele gigante sumério filho de Enlil, mas vai ser um símbolo, algo que pode estar em cada um de nós. Gilgamesh é o filho de Enlil e diz-se – segundo todas as parábolas e todas as formas simbólicas – que é esse grande…

A Vênus de Milo e a Vitória da Samotrácia

São obras do período helenístico, guardadas no Museu do Louvre, em Paris. Realizadas em mármore pentélico e de Paros, resumem as expressões corporizadas de duas deusas: Niké e Afrodite. Resumem também dois recônditos mistérios que torturam, acompanham e glorificam a humanidade desde a sua aparição na Terra: a Guerra e o Amor. Neste mundo superficial, onde a pouca profundidade substituiu a guerra pela briga e o amor pelo sexo, as duas imagens fabulosas nos levam a nossos ancestrais puros e formidáveis. Nenhuma das dois pode ser compreendida pelo turista apressado; é necessário meditar pelo menos uma hora ante cada uma delas para preencher-se com suas essências. A Vitória, dorso de mulher envolta em túnicas revoltas pela humanidade e pelo vento e sustentada por poderosas assas, de pé, na proa de um navio de pedra nos fala do triunfo sobre o mal, de gloria e de ascensão através de um ideal inegoísta e sublime. É a Guerra Sagrada, o triunfo sobre a escuridão, a ignorância e o medo. A seu lado sentimos o fragor dos gritos dos remadores encantados pela aventura, remando sem porto, pelo mar, de vento cruzado com o gemido augural das gaivotas. Abaixo ruge o Oceano negro; acima…

Era uma vez um rio

Era uma vez um rio – diz uma velha tradição oriental – que corria mansamente no seu cômodo leito de barro. As suas águas eram turvas e nelas viviam peixes da cor do chumbo que buscavam o seu alimento no lodo. Como era muito pouco profundo, nenhum ser humano ainda se tinha lembrado de fazer uma ponte sobre ele, conformando-se apenas em colocar algumas pedras no seu leito que improvisavam caminhos umidificados pelas lentas águas. Os animais dos bosques vagueavam pelos lugares menos profundos, revolvendo as entranhas do rio com as suas patas. Para beber iam ao lago mais próximo, porque as águas do rio eram escuras e cheiravam mal.

No Mês de Abril: São Jorge

Aqui está uma estranha figura, cujas histórias afundam tão profundamente dentro dos limites lendários que é muito difícil representá-la claramente. Mas São Jorge, inquestionavelmente, era um símbolo de tanta importância, que em diferentes épocas foi apresentado como uma bandeira da Cavalaria, Honra e Sacrifício. Os dados mais conhecidos nos falam de George, o príncipe da Capadócia, que atuou como guerreiro sob as ordens do imperador Diocleciano. Morreu em aproximadamente 303 dC, e desde então é lembrado por sua notável santidade cristã. No entanto, há um fato, mítico ou não, que o manteve fresco na memória de todos os tempos, e é a morte do dragão. Numerosas versões, algumas mais antigas que outras, nos dizem que São Jorge libertou uma princesa do ataque de um dragão, e de lá sua fama como cavaleiro invencível surgiu e de lá ele foi reverenciado como Patrono dos Cavaleiros. E é aqui que o mito apoia nossas buscas e nos ajuda a reconhecer esse herói e santo a quem nos referimos. Simbolicamente, tanto na Idade Média quanto em épocas anteriores, o Dragão é a imagem da matéria, do mal, das forças das trevas que espreitam e estão dispostas a destruir tudo com o fogo das…

Maio: O Despertar da Vida

Tradicionalmente (no hemisfério norte) Maio é o mês das flores, o mês da Primavera por excelência. E não recorremos a estas expressões como simples imagens literárias tantas vezes repetidas, mas pretendemos buscar o sentido simples e real da Primavera e da flor. Como os filósofos à moda antiga, tão velha que já é outras vez nova, queremos a resposta direta da Natureza para a sede de conhecimento que dorme em nós. É verdade que a Primavera é o despertar após o sonho que supõe o frio inverno. Também é verdade que no homem existem despertares cíclicos que sucedem a períodos obscuros ou de letargia. Um despertar é sempre belo, porque supõe luz, atividade, renovação, movimento… Mas uma vez despertos, como focar e continuar com a ação? Uma vez nascida a Primavera em nós, como torná-la duradoura? Talvez o maior mal dos homens consista em querer começar muitas coisas, mas não poder continuar com elas. Porque o começo supõe pouco esforço e, além disso, tem o atrativo da novidade, enquanto que a continuação do trabalho é sinônimo de paciência e experiência, de sacrifício e responsabilidade… E é então quando se evita a dificuldade da continuidade com a busca do novo, simplesmente…

Criação do Mundo para os Índios Dessana

Deus criou o mundo em 7 dias…do Caos grego saíram os cinco primeiros deuses…Bhrama tudo criou…Estas são todas referências da criação mais ou menos conhecidas para a maioria de nós. A história bíblica é a mais conhecida no mundo cristão, a mitologia grega nos vem a partir de todo o legado cultural do Ocidente e já a mitologia hindu nos chega a partir do resgate mais recente da religiosidade e cultura orientais. Mas, e o que dizer dos mitos da criação dos índios brasileiros? Enquanto o distante e exótico da cultura celta ou hindu nos desperta fascínio, pouco sabemos a respeito dos mitos de nossos próprios (e distantes) ancestrais. A alma brasileira, além da influência européia e africana, tem um importante componente indígena que precisa ser resgatado e melhor conhecido. Dizia Micea Eliade (1978) que o sagrado é parte da estrutura da consciência humana e a mitologia, neste caso, seria a expressão mais evidente desta nossa relação com o sagrado, manifestando-se em todos os povos conhecidos. Assim, o olhar para a mitologia dos índios brasileiros pode representar mais um importante caminho de conexão com o sagrado e lançar luz sobre a nossa busca por padrões e semelhanças que nos revelem…