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Amor e Mito

Esses dias, encontrei, por acaso, o conhecido quadro “Independência ou Morte”, do pintor Pedro Américo, e, com essa mania que os filósofos têm de querer refletir sobre tudo, comecei a pensar sobre a cena. Todos sabem que havia um jogo de interesses por trás, que a cena já havia sido “encomendada” por D. João VI antes de partir, e que aquele príncipe não era lá o que se poderia chamar de um primor de moral. Mas, diante desta bela obra, todas estas coisas se desvalorizam, e nasce o mito: um príncipe, um dia, sacou de sua espada e declarou, em alto e bom tom, que os filhos desta terra (nós!) sejamos amantes da independência, ou seja, da autonomia, da capacidade de nos impormos sobre as circunstâncias adversas, e que só temamos a morte indigna. Se ele não era digno de dizê-lo, problema dele; nós somos dignos de vivê-lo, e o tornamos real, através de nossas lutas diárias, às margens de tantos “ipirangas”, e sua espada corajosa e desafiadora é símbolo de nossa disposição ante as dificuldades… e necessitamos deste símbolo. Tantas vezes, Platão fala da necessidade do mito; tantos povos o souberam e viveram, mas nós permanecemos indiferentes ante esta…

Independência ou Morte

Se existe um tema caro ao nosso tempo, é o da independência e da liberdade, cantados em AM e FM com um dos maiores, senão o maior objetivo da vida. À parte a consideração de que ter um valor como sentido de vida já é algo de raro e louvável, não posso deixar de me perguntar, porém, do que é, de fato, que as pessoas querem tanto se libertar. O filósofo Platão costumava falar que quem fala muito de comida, deve estar faminto… e quem fala tanto de liberdade? Claro que surgirão as sempre pertinentes colocações da lista interminável de tiranos que submeteram e submetem a humanidade, em todos os tempos, e que provocam com justiça nossa indignação: de caráter político, religioso e etc. etc. Mas, se me permite a “liberdade”, vamos ser objetivos? O que submete você, agora, aqui, neste momento? Trocando em miúdos, o que te impede, de fato, agora, de ser alquilo que gostaria de ser, ou seja, de realizar seus sonhos? Para não dizer que faço perguntas constrangedoras e que não obedece ao clássico preceito do ensinamento mediante o exemplo, vou tomar a iniciativa e vou te dizer quais foram os principais “tiranos” com os quais…

Prudência

Domina a fúria que impulsionaa insensatez no tom de tua voz.Refreia o ímpeto e a inconsciênciada expressão dura, do olhar atroz. Tempera a voz em tua voz interna,banhada em águas do coração.Deixa que surja, purificada,melodiosa como canção. Lembra do Mestre, em tempo remoto,coração reto qual labareda,que, com leveza, tocava o solo,andando sobre um papel de seda. Não deixa marca que fragmente,ou que divida, qual alameda.Cultiva o prado de teu caminhopisando leve o papel de seda. Não busque o solo que te sustente,a base falsa que arremedauma verdade que não existe,que dilacera o papel de seda. Preso ao celeste, vê que flutuas,livre do peso, pelo espaço.Passos de seda, mostram que a tuaé uma vontade forjada em aço. Prof. Lúcia Helena Galvão. Esse poema foi musicado e interpretado pela estrela Zizi Possi, com melodia composta pelo talentoso Keco Brandão.

Votos

Aqui me posto ante teu berço de homem-lótus, recém-desperto. Faço meus votos por teu destino, vôo de águia a céu aberto. Que haja saga, que vibre o sangue, e que teus sonhos apenas somem não aos prazeres que o homem prova, mas às virtudes que provam o Homem. Que a vida vaga, vã e inerte em puro ardor seja convertida, por tudo aquilo que a Vida verte, e não àquilo que inverte a vida. Que pises forte, que tenhas fibra, e que teus frutos sejam entregues jamais às sombras que cegam a alma, mas sempre às luzes que a Alma segue. Faz a oferta de teu esforço toda vitória e a vida em si, pois toda a obra que de ti nasce é dos que nascem através de ti. Se o tempo esgota e pouco te sobra, e, por apego, temas, resistas, liberta a obra, qual nobre artista… Vê que és o artista e a própria obra. Prof. Lúcia Helena Galvão. Esse poema foi musicado por Keco Brandão e Flávia Wenceslau.

Reflexões sobre Jung – “Questão do Coração”

Em tempos em que nem sempre as opções oferecidas pelos cinemas parecem ou são realmente interessantes, uma dica para quem deseja selecionar bem o que assistir em casa. Produzido em 1986 nos Estados Unidos, “Questão do Coração” é um documentário sobre vida e obra de Carl Gustav Jung, que foi lançado Brasil apenas no dia 6 de dezembro de 2013, pela Versátil. Consta de uma entrevista com o próprio Jung, datada da década de 50, e com depoimentos de vários de seus amigos e alunos. Dentro da densa quantidade de informações oferecidas, nem sempre fáceis de compreender, destaca-se a ideia do inconsciente, Descrito pelo próprio Jung como uma das razões para seu famoso rompimento com Freud, pois este último encarava o inconsciente apenas como um espécie de “depósito” onde os resíduos da atividade consciente são descartados; para Jung, pelo contrário, trata-se de uma rica fonte de experiências, com vida autônoma, por vezes. Ora vejam bem, para quem não trabalha diretamente com psicologia, analítica ou não, mas com filosofia, lembramos do conceito de inconsciente como tudo aquilo que influencia nossa atividade consciente, sem que possamos ver com clareza suas origens; daí que poderíamos identificar diferentes patamares de inconsciente: pessoal, individual, cósmico…pois…

A Menina que Vendia Castanhas

Numa manhã nebulosa e fria, fazendo o meu trajeto matinal, de automóvel, lembrei subitamente de um livro de histórias que eu possuía, na minha infância… Dessas lembranças que afloram de repente, parece que para nos cobrar alguma coisa, e vão-se embora, sem maiores explicações. Era uma história de uma menina, um daqueles desenhos em que os olhos do personagem são desproporcionalmente grandes, redondos e vivos: ela vendia castanhas num local onde nevava. As pessoas passavam, caíam flocos de neve e ela oferecia, desde seu carrinho onde ardia um pequeno lampião, castanhas… Uma paisagem exótica para uma criança brasileira; um mundo onde tudo parecia distante, misterioso e belo. E eu sonhava e sonhava com um mundo onde tudo fosse assim:magia e beleza.Hoje, quando minha vida já dobra sua quinta década, a menina volta para me visitar, numa manhã nublada, talvez para perguntar: o que você fez com seu sonho? Pensativa diante dessa desafiadora pergunta, baixo a janela do meu carro, que desce devagar, revelando o meu mundo. Continua não nevando nele… mas há, no meio de carros excessivamente apressados e barulhentos, um tronco de árvore cortado, que se inclina para frente, como se quisesse vencer sua imobilidade e avançar… há um…

Como Massinha de Modelar…

Ninguém se esqueceu, penso, das massinhas de modelar com que brincávamos na nossa infância; alguns, como eu, se reduziam a fazer bolinhas coloridas, mas os mais habilidosos chegavam a pequenas esculturas muito graciosas; bons momentos foram passados ao lado deste brinquedo. Também chega a ser bem óbvio que continuamos, em outras fases da vida, “modelando” outras “massinhas”, às vezes bem mais sutis, como pensamentos e sentimentos, nossos e alheios, até as substâncias mais concretas, como palavras e atos. Também poderíamos medir a nossa habilidade para lidar com estas substâncias pela galeria de “produtos” que vamos deixando para trás, dentro e fora dos outros e de nós. Isso constitui nossa história, nossa memória, a síntese do que deixamos registrado na vida. Lindas manhãs de sol são bem conhecidas como ótimas para nos chamar a atenção para pequenas belezas desapercebidas, como pássaros, flores etc. São comuns os textos idílicos sobre estas coisas. O que gostaria de questionar é se estas e todas as demais coisas, enfim, em todos os planos, também não são o rastro de alguém, que deixou registrado, para todos os lados, sua própria história. Será que existiriam as coisas sem que nada tivesse passado e deixado marcas nesta amorfa…

Como Fazer Alquimia

Gostaria de aprender uma receita básica de Alquimia? pois aí vai: comece por misturar um finalzinho de tarde ensolarada de domingo com a Missa Brevis, de Palestrina. Feita a mistura, coloque-se, então, frente a uma janela, bem aberta, sem vidros ou cortinas, em absoluta paz e silêncio, e respeitoso vazio de pensamentos. Simplesmente esqueça de si por alguns momentos, entendendo bem que esquecer de si é esquecer também de todos os julgamentos prévios que habitualmente despejamos sobre as coisas. Apenas corpo e alma limpos e olhos e ouvidos bem abertos. Agora, começa a magia: veja as coisas. Veja como salta, vivo e vibrante, o verde das folhas…como se movimentam, soprados por um fresco hálito que circula em tudo, às vezes com movimento suaves, às vezes intensos e alegres, como as alternâncias das vozes, que se enlaçam, em seus cantos de louvor. Veja o céu: como o azul suave, cheio de nuances das luzes do poente, sugere a mais perfeita e plácida paz, num contraste que é quase perplexidade ante a volúpia da terra… Veja como a luz se projeta nas coisas, nos cantos, em pequenos e dourados raios e reflexos, brinquedo de esconde-esconde, que, às vezes, nos surpreende em um…

Eu Acredito em Príncipes e Princesas, no Amor… e na Vida

Quando era pequena, amava aquela passagem do Peter Pan, onde a Sininho falava que, cada vez que alguém dizia não crer em fadas, uma fada morria. Batia palmas, energicamente, junto com Peter Pan, para que ela voltasse à vida, e vibrava quando ela alçava voo, espalhando pó de pirlimpimpim para todos os cantos. Num desses dias, escutava uma jovem que, ao se lamentar pelo aparente fracasso em seu relacionamento, usou uma frase fatal: “Já não sou mais uma menina para acreditar em príncipes encantados montados em cavalos brancos e em amor eterno… já me conformei com a realidade!” Acho que o pó de pirlimpimpim, tantos anos adormecido dentro de mim, despertou e soltou faíscas diante disso: como assim? que realidade? Que as paixões morram, acho natural, pois buscam coisas tão superficiais que já nascem meio mortas; tão instintivas, que parecem mais anseios do cavalo que do príncipe; tão densas e carregadas de fantasias, que parecem partir mais do fígado do que do coração… são mesmo fugazes, as paixões. Mas por que devem carregar consigo o Amor? Quem disse que elas suportariam tal peso? “Mas os fatos comprovam…” diria a nossa jovem… quem disse que a realidade se mede por fatos?…

Giordano Bruno, mártir da ignorância humana

Em 27 de janeiro, nasceu Mozart, o compositor; em 17 de fevereiro, morreu Giordano Bruno, o filósofo. Do primeiro, pouco se precisa falar: todos lembram do prodígio que, ao cinco anos de idade, compunha e dava concertos ao piano. Nem todos lembram tanto, porém, do segundo, filósofo condenado à fogueira por heresia e executado em 1600 por afirmar, entre outras coisas, a existência de infinitos mundos, alguns possivelmente habitados, como o nosso, e a eternidade da Alma do Mundo, que se renova ciclicamente sobre a terra, tomando corpo em todos os seres. Ambos dignos de um espaço nobre na admiração e na memória dos homens. Mas gostaria de enlaçar a ambos de uma forma curiosa e inusitada: falando a respeito de um personagem de Mozart, em sua mais famosa ópera, intitulada “A Flauta Mágica”. Bem resumidamente, a simbólica obra fala de um príncipe, nobre e virtuoso, Tamino, que busca conquistar sua alma humana, representada pela princesa Pamina, e o faz após passar por difíceis provas, conduzidas pelo sacerdote Zarastro. Em grande parte de sua jornada, o herói é acompanhado por um humorístico personagem, Papageno, caçador de pássaros que em nada se interessa pela busca da sabedoria ou de mistérios; quer…