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O Ser Humano Frente as Crises

Muitos devem conhecer um pequeno conto sobre um pai e filho que viajavam de trem, em um percurso que duraria aproximadamente uma hora.

O pai se acomoda no assento, dispondo a ler uma revista para se distrair e a criança o interrompe perguntando-lhe:

– O que é isso, papai?

O homem se volta para ver o que o filho assinalava pela janela e responde:

– É uma granja, meu filho.

Ao retomar sua leitura, outra vez lhe pergunta a criança:

– Já vamos chegar?

E o homem responde que ainda faltava muito.

Retorna a sua leitura. Mal havia lido o primeiro parágrafo de sua revista quando o pequeno lhe faz outra pergunta e, após esta, outras mais.

O pai, já exasperado, buscando uma solução para distrair o filho, encontra em uma página da revista o mapa do mundo. Corta-o em pedacinhos e repassa a criança, dizendo-lhe que se tratava de um quebra-cabeça e que ele o montasse.

Feliz, o pai se acomoda em seu assento, seguro de que a criança estaria entretida durante todo o trajeto.

Entretanto, mal recomeçara a ler sua revista, quando a criança exclama:

– Já terminei!

– Impossível! Não posso acreditar! Tão rápido?

Diante dele estava o mapa do mundo, perfeito.

Então, pergunta:

– Como você conseguiu montar o mundo tão rápido?

O filho responde:

– Eu não me fixei no mundo: atrás da folha estava a figura de um homem. Compus o homem e o mundo ficou consertado.

Na Filosofia, aprendemos de vários sábios, que a verdadeira mudança, profunda, duradoura e, portanto, eficaz, é a mudança realizada através da Educação. Não somente pela educação informativa, a que impera em nosso mundo atual, pois educar não consiste simplesmente em “colocar” algo na cabeça das pessoas; não consiste no acúmulo de informações e notícias, mas no ato de formar a personalidade humana através do conhecimento. Educar é “tirar de dentro” o que de melhor cada ser humano possui em potencial, em estado latente. Desenvolver sua capacidade de ser Bom, Justo e Generoso.

O filósofo chinês Confúcio, de aproximadamente 500 a.C., diante da pergunta de um discípulo sobre como mudar o mundo, ele ensinava esta antiga lição:

Se quisermos Estados organizados, primeiro devemos orientar as famílias. Desejando orientar as famílias, primeiro devemos cultivar sua personalidade. Desejando cultivar sua personalidade, primeiro devemos mudar seus corações. Desejando mudar seus corações, primeiro devemos buscar a sinceridade de seus pensamentos. Desejando a sinceridade em seus pensamentos, primeiro devemos buscar o verdadeiro conhecimento dentro da alma.

Tendo buscado o verdadeiro conhecimento na alma, os homens tornam seus pensamentos sinceros. Com os pensamentos sinceros, seus corações foram mudados. Com os corações mudados, sua personalidade se transforma. Com a personalidade transformada, a família fica bem orientada. Com a família bem orientada, os Estados são governados com justiça. Assim, temos um Estado em Ordem e Harmonia.

A crise, em grego “krisis”, significa “separar” ou “decidir”. A crise nos obriga a pensar, produz análise e reflexão. Não temos dúvida de que estamos em tempos de crise. Esta crise, invariavelmente, nos levará à mudança. Mas de que tipo de mudança estamos falando?

Os filósofos de todos os tempos sempre tiveram esta finalidade, “mudar o mundo”, mas também sempre souberam que é preciso começar pelo ser humano.

Queremos mudar o mundo para melhor, mas queremos mudanças verdadeiras. Por isso, a necessidade de começarmos pelo próprio homem. As verdadeiras mudanças não ocorrem de fora para dentro, mas de dentro para fora, através da Educação Formativa, da construção de uma vida moral, da coerência em todos os campos da vida. É uma responsabilidade de todos. E temos uma excelente ferramenta em nossas mãos: a tradição filosófica.

Alice Amaral, professora da Nova Acrópole de Goiânia.