Quando por breves instantes conseguimos escapar da rotina material do viver com minúscula, abrem-se ante nossos olhos a imensidão do universo, que sabemos ser incompreensível, mas que, no entanto, não o sentimos alheio a nossa condição de humanos.

O que primeiro nos chama a atenção? A ordem, a harmonia inquebrantável com que tudo se desenvolve, os sons incansáveis com que os ciclos tornam a aparecer uma e outra vez... Isto é Música.

Assim tomam novo valor as palavras dos velhos filósofos que nos explicam a “harmonia das esferas”. Assim, entendemos que efetivamente, por trás dos nossos ruídos, existem sons belos encadeados que vão atando sutilmente as formas universais da vida. Assim entendemos que a música que chega aos nossos ouvidos é apenas uma sombra (e nem por isso menos bela ate nossos imperfeitos sentidos) que aquela outra Música Cósmica que provavelmente ressoará cadenciosa e infinitamente do Espaço.

Por isso hoje vi a Música e entendi seu grande segredo. Ela não é obra nem criação dos humanos, ou pelo menos, não é fruto dos humanos cegos e acorrentados na matéria... Ela vem de longínquas regiões e deixa-se prender pelos gênios que, em seus lapsos de inspiração, podem elevar-se à esfera da harmonia. Estes são os homens felizes (verdadeiramente felizes?) que podem viver o fenômeno de elevar-se até esse mundo superior e logo, transcrever, com o desespero da pressa, umas notas em suas páginas, ou uns acordes em seus instrumentos, que deverão resumir o que eles perceberam de forma tão clara.

E a nós, resta o ouvir e o ver... O abrir essa porta mágica que alguma vez foi secreta e hoje nos mostra o caminho da música. Os sons não morrem no ar, não se desvanecem no tempo; basta querer ver para observá-los dançando no espaço, repetindo milhares de vezes na memória. É a harmonia que clama por seus ancestrais; é a música que se apresenta ante nós.

Você quer vê-la também? Existem muitos autores que a escreveram para você... Existem muitos homens que expressaram sua verdade através da beleza do som. E é seguro que, se deixássemos penetrar essa harmonia no fundo do nosso próprio Ser, muitas angustias seriam varridas como magia: o ritmo universal terá posto ordem em nosso micro-universo que chamamos “homem”.

Délia Steinberg Guzmán