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Voluntariado: vontade de poder

No dia 05 de dezembro celebramos o Dia Internacional do Voluntariado. A data foi instituída pela ONU como uma forma de reconhecer e promover o trabalho voluntário ao redor do mundo.

Não escapa à atenção o fato de que o voluntariado tem sido abraçado cada vez mais por seres humanos e instituições, o que é uma esperança. Mas, como tudo que é humano, pode ser aperfeiçoado.

Já encontrei vários tipos de voluntários; os que faziam por se acharem em falta com os homens ou com Deus; os que sentem a necessidade de sacrificar-se em prol do bem alheio… Ambos são válidos, e até belos, mas, normalmente, um acaba tendo data para terminar, quando se imagina ter “findado a dívida” por faltas cometidas, enquanto o outro pode carregar consigo o sentimento de lamento por perder algo de maior valor em termos de prazer e satisfação. Claro que é melhor isto do que não fazer nada, mas buscar harmonizar fins e meios, também é virtude.

Lendo Nietzsche, encontrei a expressão “vontade de poder” e lembrei-me de que voluntariado vem do latim voluntas, vontade. Não seria essa uma boa explicação para um legítimo voluntariado? Ele diz que é inútil a moral que busca converter o homem através de máximas como “seja bonzinho, seja bem-comportado”, pois todo ser humano busca, consciente ou inconscientemente, o Poder, e isso pode ser educado e convertido em ações morais.

“Ah, mas o Poder corrompe”, diz o senso comum. Não creio. Situações de Poder dão oportunidade para aquilo que estava latente, se manifeste. Como dizia Machado de Assis sobre a máxima que afirma que a ocasião faz o ladrão: “A ocasião faz o furto: o ladrão já nasce feito”. Poder é capacidade de ser, de fazer, de realizar, de transformar. A própria etimologia diz: poder é posse do ser, do latim potis esse.

Quando olhamos para o passado e vemos a grandeza, a pureza e a bondade que certos homens foram capazes de manifestar, não podemos nos furtar à conclusão de que esse potencial humano também existe em nós, embora adormecido.

Enamorar-se dessa nobreza latente e querer vivê-la, trazê-la à tona, é Vontade de Poder. Eu não chegaria ao ponto de substituir códigos de moral por códigos de nobreza, como propunha Nietzsche, não tão cedo, mas duvido quem ousaria dizer: “Sacrifiquei muita coisa para ser humano, para ser nobre”. O que você sacrificou? O que poderia haver na sua vida, melhor do que isso? Não seria mais lógico dizer: “Sacrifiquei muito voluntariado por banalidades momentaneamente prazerosas, mas sem maior valor”?

Como voluntária de Nova Acrópole há 33 anos, sei que o meu voluntariado não é “perfeito”, pois eu mesma estou muito longe disso: faço apenas o melhor que posso. Mas, como filósofa, não abro mão do direito de sonhar com um voluntariado que seja glória e êxtase pela condição humana que me cabe, momento de felicidade e de realização não permutável por nada neste mundo. Isso me torna um ser em construção, enamorada da vida humana e dos seus sonhos mais dignos, entre os quais está o de servir ao Bem, e servir voluntariamente. Parabéns, Voluntários, pelo seu dia!

Por Lúcia Helena Galvão Maya