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Marco Aurélio: A capacidade de lidar com os medos e as incertezas

Conhecido como o imperador filósofo, desde criança Marco Aurélio se dedicou a buscar a sabedoria através da filosofia. Integrou a corrente do Estoicismo, cujo compromisso era o desenvolvimento de uma moral humana. Moral esta que ajuda a distinguir o que é eterno do que é passageiro; o que é bom, daquilo que se afasta do bem; o justo, do que é injusto. E a partir destas distinções poder fazer melhores escolhas, ter uma vida mais serena e segura.

Esta coerência entre os princípios e as ações nos dá poder diante das circunstâncias. Um eixo de sustentação interno que nos garante uma independência dos acontecimentos à nossa volta.

Oriundo de uma família nobre, Marco Aurélio nasceu em Roma no ano 121 d.C. Teve várias dificuldades pela posição que ocupava e por querer viver uma vida moral. Seu campo de atuação foi Roma, onde foi preciso lidar com a diversidade de línguas, religiões, invasões, pestes e traições. Ele exercitou sua moral nessas dificuldades que se apresentavam. Assim como Marco Aurélio, também temos nosso campo de atuação, que está na nossa família, trabalho, trânsito, ou seja, no nosso dia a dia.

Desde criança, Marco Aurélio demonstrava interesse em valorizar os prazeres da alma e não valorizar o mundo material. Sempre buscava reconhecer o lado bom das pessoas. O avô lhe proporcionou ótimos mestres em diversas disciplinas. Aos 15 anos foi designado prefeito temporário de Roma. Aos 17, passa a morar no palácio ao lado de Antonino Pio, que estava sendo preparado para substituir o imperador Adriano. Marco Aurélio permaneceu com sua simplicidade e moral que impressionava a todos.

Ele ocupou vários cargos, casou-se com Faustina e teve muitos filhos. Com a morte de Antonino, assumiu a administração de Roma e convidou Lúcio a se tornar o responsável pelo exército.  Governava com justiça tendo a filosofia como base. Os outros reinos entendiam essa forma de governar como uma fragilidade e várias guerras surgiram, muitas invasões. Mas Roma saiu vitoriosa. No entanto, os soldados trouxeram uma peste que devastou toda Roma, e a fome foi flagrante. O povo teve sua fé abalada e caiu em desesperança.

Marco Aurélio então convoca todos os homens para povoarem as terras desabitadas. Ele vende tudo que tinha de precioso no reino e transforma em armamento para fortalecer as fronteiras. Cria um exército forte, a partir de uma disciplina inabalável, sob a responsabilidade de Lúcio. Este morre e em seguida Marco Aurélio passa a sofrer de uma grave doença de estômago. Cuida-se, mas se mantém atento aos objetivos e compromissos.

Em outro momento de invasão, Marco Aurélio já recuperado se veste de general e vai para a guerra. De dia enfrenta os inimigos, e à noite faz suas reflexões filosóficas sobre o que estava vivendo. Ele refletia sobre a moralidade humana, a imortalidade da alma e sobre a providência divina. Tais reflexões se transformaram no livro conhecido pelo título: Meditações.

Foi traído por Avídio, um dos seus generais que se dizia amigo. Aproveitando a ausência de Marco Aurélio, contém uma rebelião e se declara imperador de Roma. Marco Aurélio prefere declarar a paz contra a Germânia e voltar a Roma. Avídio é assassinado e Marco Aurélio muda o caminho indo para Atenas e Alexandria para intensificar seus estudos filosóficos. Passou por grandes escolas tais como: a Platônica, a Pitagórica, a Epicurista e a Estoica. Volta a Roma e é recebido como “salvador da pátria”. Foi aclamado por todos os povos por sua postura moral. Nova enfermidade o ataca e ele falece.

Marco Aurélio acreditava e vivia algumas ideias, como a de que existe uma ordem universal e superior, que entrelaça todos os seres humanos, como se o universo fosse um grande corpo e nós, as células. Cada célula cumprindo com o seu papel e colaborando com o corpo (o todo). Aquele que foge do cumprimento do seu papel prejudica não só a si, mas ao todo. “Nada e ninguém pode nos impedir de cumprir nosso papel, a não ser nós mesmos”, disse Marco Aurélio, no livro Meditações. Ele também fala da imortalidade da alma – tudo o que nos rodeia é passageiro, transitório. Tudo que é material está fadado à morte, que é tão natural quanto o nascer. Somente nossa alma é imortal, e essa dificuldade de identificar o que é imortal em nós nos faz sofrer com as perdas no plano físico.

Ele ainda nos aconselhava a nos preparar para os acontecimentos que são previsíveis, inclusive a morte: “reconhecer a existência dos Deuses é se preparar para a vida e reconhecer a providência Divina”.  Com isso ele ressaltava a importância de, diariamente, se preparar para todas as coisas que podem nos acontecer e o que os outros podem nos fazer, tanto pela bondade quanto pela ausência do bem. Não estar à mercê do que nos acontecer, manter-se de pé e enfrentar o que vier. Não esperar que a vida nos dê tudo, e buscar se preparar para compartilhar o que possuímos. Olhar a vida como uma grande oportunidade de sermos melhores, pois “tudo que acontece ao homem é próprio do homem”.

Manuela Bittar

Este artigo foi escrito com base na palestra ministrada pela professora voluntária da Nova Acrópole, Manuela Bittar, durante o ciclo de palestras promovido em comemoração ao Dia Mundial da Filosofia. O evento ocorreu no período de 16 a 21 de novembro através do Youtube da Nova Acrópole.