fbpx

Esoterismo, estupidez ou sabedoria?

Milhões de pessoas fazem esta pergunta. Vale a pena encontrar uma resposta adequada e de acordo com a verdade. Buscaremos os caminhos mais simples e diretos. Buscaremos, pois buscar, interrogar-se e interrogar é a atitude filosófica por excelência.

Primeiro

Diferenciar e esclarecer. Definir e entender.
Chama-se esotérico ao interior, à substância dos fenômenos e ao ser de toda inteligência. De tal sorte, e sem preconceitos de impotência, forçosamente vemos que toda manifestação se origina naquilo que se manifesta. Detrás de toda forma existe una ideia e, mais além de toda ideia, uma vontade. A ilusão da “casualidade” é substituída, favoravelmente, pela realidade da “causalidade”. Entre ser e ente, substância e fenômeno, existe uma relação natural.
A relação é ação, o que os hindus chamam de Karma, e essa ação se desenvolve segundo uma vontade inteligente ou Dharma, que daria um sentido à vida ou sadhana. A utilização da terminologia oriental é intencional, pois, infelizmente, é muito mal-usada em tudo que é referente ao esotérico, e é oportuno dar-lhes seu verdadeiro significado.
A exteriorização do esotérico é o exotérico ou externo, visível, palpável. É a circunstância. É o movediço e cambiante entorno da realidade.
Assim, o esotérico é essencialmente verdadeiro, existente e qualitativamente mistérico, e não pode ser capturado em atitudes robotizantes, em ritos improvisados, naquilo que é marcado inexoravelmente pela morte.
Para o esotérico, a morte não existe, pois é apenas a vida com seus diferentes matizes que se manifesta nas ilusões dualistas de uma dialética circular, representada pela serpente que constantemente devora a própria cauda; pelo tempo que gira sobre si mesmo e transporta a consciência transcendente em sua carruagem de ferro.

Segundo

Saber que uma coisa é o esotérico e outra é o esoterismo, porque este seria o exercício do primeiro. Este exercício pode ser correto ou incorreto, ou seja, reto ou distorcido.
O reto esoterismo é o exercício natural do essencial, do conhecimento e, mais ainda, a vivência da realidade. É saber ler na Natureza e conhecer-se; perceber de maneira certa o espírito que alenta por trás de cada manifestação, em qualquer plano de vibração. É ver o Oculto mais além de todas as suas máscaras. É ver no invisível e ouvir no inaudível. É poder, ser e atuar.
O reto esoterismo não pode ser deduzido, pois as bases de toda dedução são enganosas. É uma verdade transcendente e atemporal; é tradição viva que enlaça o passado com o futuro através do ato presente. Símbolos e palavras o carregam século após século. Como foi, é; e como é, será.
Somente os puros de coração o conhecem e o vivem.
Quando Platão disse que “o vulgo nunca será filósofo”, ele não proferiu nenhuma aberração social. Limitou-se a apontar que é preciso deixar de ser vulgar para se tornar filósofo, assim como o verme tem que deixar as características de um verme para ter as características de uma borboleta; como o ovo tem que deixar de ser ovo para se tornar uma ave; como a árvore tem que morrer para renascer como caixa de música, barco, ataúde ou berço.
Ou se é uma coisa ou outra, e para ser outra é preciso deixar de ser o que se era antes. Isso é inexorável; se vive ou se sofre, mas não se pode evitar ser.
O esoterismo distorcido é antinatural, feitiçaria, o “grande pecado”. É improvisação, fanatismo, crença boba. É o pseudomisticismo das drogas e do sexo sacralizado pelas glândulas disfarçadas de anjos. É acreditar na reencarnação apenas por medo da morte e acreditar na morte por medo da vida. É a “nanocracia” dos que querem uma igualdade à altura dos mais baixos, dos que andam sempre encurvados de tanto procurar moedas.
É o que cria terroristas e aterrorizados; o que quer destruir nossa civilização, mas não sabe nem construir a própria vida. É o que fala muito de enigmas, mas não sabe resolver nenhum. É o que é tão estrangeiro em sua pátria e em seu planeta que sempre sonha com extraterrestres. É o que fabrica seitas e acredita que tudo que vem do Oriente é misterioso e que há mais Deus em uma imagem de 4 ou 8 braços. É o que acreditou que, porque os planetas se alinharam por uma fração de segundo, era o fim do mundo. É o que pretende saber astrologia sem os rudimentos da astronomia e opinar sobre alquimia sem saber o que diferencia um metal de um metaloide.

Terceiro

Perceber que, se aparecem as boas e as más flores do esoterismo, é porque nele há uma força milenar mais velha que o próprio homem. E é em momentos de crise, como este que antecede uma nova Idade Média, que emergem elementos atávicos.
O esoterismo não é estupidez, embora sob suas bandeiras se abriguem milhares de estúpidos. Afirmar o contrário equivaleria a pensar que o sol é frio porque ilumina toneladas de gelo acumulado nos polos.
A insensatez dos humanos vem de suas próprias naturezas, e até que o tempo e o gênio não os resgatem de tão triste condição, continuarão grunhindo pelos despenhadeiros da história. Seja dos degraus de um anfiteatro romano, das amuras de um navio pirata ou do chão onde se sentaram em “padmasana”, em uma triste paródia hindu. Sem vontade própria, são arrastados pelas modas como as folhas secas pelo vento do outono. Não são culpados, mas vítimas de sua própria pequenez. É preciso ajudá-los, ensiná-los a lavar o corpo, a psique, a alma. Se julgamos o esoterismo por tais “esoteristas”, também teremos que julgar a Igreja pelos inquisidores e a figura matriarcal pelas prostitutas? Obviamente não.

O definitivo

O esoterismo é a mais antiga forma de exercício da sabedoria. Ilumina as aparentes contradições dos livros sagrados; explica por que nascemos e por que morremos; nos conecta com nosso passado pré-histórico de perdidas civilizações cujas ruínas ainda nos inquietam; nos oferece uma ética profunda para além da moral pusilânime que varia a cada ano; torna evidente nossa própria imortalidade e a presença constante de Deus; nos ajuda a compreender – sem justificar – nossos erros e os erros dos demais; nos torna mais fortes e mais dignos ao nos compenetrarmos de toda a natureza.
Por fim, inspira os filósofos como um farol no meio da noite deste século materialista, violento, cruel e covarde. Dará nascimento ao homem novo, este com o qual todos sonhamos, o portador da luz.