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Amor e Mito

Esses dias, encontrei, por acaso, o conhecido quadro “Independência ou Morte”, do pintor Pedro Américo, e, com essa mania que os filósofos têm de querer refletir sobre tudo, comecei a pensar sobre a cena. Todos sabem que havia um jogo de interesses por trás, que a cena já havia sido “encomendada” por D. João VI antes de partir, e que aquele príncipe não era lá o que se poderia chamar de um primor de moral. Mas, diante desta bela obra, todas estas coisas se desvalorizam, e nasce o mito: um príncipe, um dia, sacou de sua espada e declarou, em alto e bom tom, que os filhos desta terra (nós!) sejamos amantes da independência, ou seja, da autonomia, da capacidade de nos impormos sobre as circunstâncias adversas, e que só temamos a morte indigna. Se ele não era digno de dizê-lo, problema dele; nós somos dignos de vivê-lo, e o tornamos real, através de nossas lutas diárias, às margens de tantos “ipirangas”, e sua espada corajosa e desafiadora é símbolo de nossa disposição ante as dificuldades… e necessitamos deste símbolo. Tantas vezes, Platão fala da necessidade do mito; tantos povos o souberam e viveram, mas nós permanecemos indiferentes ante esta…

Protagonistas da História: JOANA D’ARC

(1412-1431) Um coração guerreiro Em certas ocasiões, a história deixa personagens, cujas vidas nos fazem crer ainda nos heróis e, neste caso, nas heroínas. Há momentos decisivos na vida que marcam o caminho do que você vai ser Joana D’arc nasceu em Domrémy, no seio de uma família camponesa. Sua infância transcorreu com normalidade até que, aos treze anos, acreditou ter ouvido a voz de Deus. Com o passar do tempo começou a ter visões de santos mártires, que a acompanhariam pelo resto de sua breve existência.  No princípio de 1429, em plena Guerra dos Cem Anos, essas vozes induziram-na a ajudar o Delfim(1). Antes que os ingleses invadissem Orleáns, Joana conseguiu convencê-lo de que Deus lhe havia encomendado a missão de salvar sua pátria. O Delfim, aconselhado por um grupo de teólogos, aprovou sua petição e concedeu a Joana tropas sob seu comando. Estas conduziram o exército gaulês à vitória definitiva. Uma vez expulsos os ingleses, o monarca Carlos II negou-se a empreender novas ações bélicas contra a Inglaterra. Ainda assim, Joana continuou sua particular cruzada. No ano de 1430, sem o apoio real, lançou uma operação militar em Compiégne, próxima de Paris. Ali foi capturada pelos borgonhêses, que…

A Realização de um Sonho Milenar

Evidentemente, a presente geração deste espantoso século XX teve o privilégio de assistir à chegada à Lua. Dizemos privilégio, pois, ainda que novas façanhas superaram muito rapidamente este acontecimento, o fato tem uma enorme dimensão e serão necessários anos para compreende-lo e valorizá-lo em seu verdadeiro tamanho. Durante milênios, a conquista da Lua constituiu um dos maiores sonhos de toda a Humanidade. O fato de que milhões de seres humanos puderam acompanhar o fato através das telas da televisão não poderia nunca ter sido previsto. A realidade superou o sonho. Em certa medida, todos ficaram tão consternados com a conquista da Lua que ainda não estamos completamente convencidos de que seja verdadeiro. Sem chegar ao mérito se valia ou não o imenso esforço realizado e a fabuloso investimento dispendido, além da utilidade pragmática desta conquista, encontramos o assombro… e, até certo ponto, o desconcerto. Aplicações da Conquista Espacial Ainda que seja prematuro predizer em que medida estas conquistas se traduziram em beneficio à Humanidade, é evidente que se abriram campos novos a aplicação de certos descobrimentos científicos e técnicos. Satélites meteorológicos e de comunicações rendem excelentes frutos e não parece longe o dia em que teremos laboratórios em órbita no…

A História se Repete?

Muitos foram os estudiosos da História e os analistas em diversas disciplinas – sem contar os milhares de interessados na questão – que se fizeram esta pergunta. É evidente que não se pode responder de maneira simplista e que optar por um sim ou por um não requer um mínimo de considerações. Justamente as que nos propomos fazer da maneira mais humilde nestas páginas. Responder, sem mais nem menos, que a história se repete exige provas muito concretas, e nem sempre dispomos delas, ou seja, de que um fato é a repetição de outro. E do ponto de vista filosófico se cria o problema de que quanto mais repetições, menos possibilidades de evoluir. Que papel exerce o livre arbítrio dos seres humanos se tudo, cedo ou tarde, volta a passar pelos mesmos pontos? Ir ao outro extremo e afirmar que a história não se repete exige não somente provas de constante originalidade nos fatos, mas falta de visão para não perceber semelhanças altamente significativas. Dizemos semelhanças, não igualdades, pois o exatamente igual é a reprodução a que antes nos referíamos, enquanto que a semelhança permite pequenas variações quanto a matizes, que são as que mais nos interessam. O mais provável…

O que é a dimensão humana da Vida?

O filósofo francês René Descartes (1596 – 1650) pronunciou uma frase que ficou famosa e que foi distorcida com o passar do tempo: “Penso, logo sou” (“Cogito ergo sum”, do verbo latino “esse”, que significa prioritariamente “ser”, e não “existir”). Ou seja, aquilo que É comanda o pensamento. Assim, colocava o Ser acima do pensamento. Descartes era considerado um filósofo idealista: a Ideia (mundo do Ser) ilumina o pensamento, dando origem à razão. Com o tempo, a tendência que predominou no iluminismo e continua prevalecendo no mundo atual distorceu essa frase, transformando-a em: “Penso, logo existo”, condicionando a existência ao pensamento, numa espécie de culto ao racionalismo empírico, predominante na metodologia científica atual. No entanto, como esta corrente de pensamento não pôde ignorar a existência, também, dos sentimentos, da energia vital (disposição para agir, para adquirir propriedades, riquezas etc) e das necessidades biológicas (instintos de sobrevivência e procriação), a pergunta “Quem sou?” ganhou um grau alto de complexidade. São várias as alternativas de resposta: sou aquele que pensa ou a minha identidade é o próprio pensamento? Ou sou aquele que sente? Sou aquele que vibra, com disposição e confiança em si mesmo, porque possuo propriedades e riquezas? Sou os meus…

Giordano Bruno, mártir da ignorância humana

Em 27 de janeiro, nasceu Mozart, o compositor; em 17 de fevereiro, morreu Giordano Bruno, o filósofo. Do primeiro, pouco se precisa falar: todos lembram do prodígio que, ao cinco anos de idade, compunha e dava concertos ao piano. Nem todos lembram tanto, porém, do segundo, filósofo condenado à fogueira por heresia e executado em 1600 por afirmar, entre outras coisas, a existência de infinitos mundos, alguns possivelmente habitados, como o nosso, e a eternidade da Alma do Mundo, que se renova ciclicamente sobre a terra, tomando corpo em todos os seres. Ambos dignos de um espaço nobre na admiração e na memória dos homens. Mas gostaria de enlaçar a ambos de uma forma curiosa e inusitada: falando a respeito de um personagem de Mozart, em sua mais famosa ópera, intitulada “A Flauta Mágica”. Bem resumidamente, a simbólica obra fala de um príncipe, nobre e virtuoso, Tamino, que busca conquistar sua alma humana, representada pela princesa Pamina, e o faz após passar por difíceis provas, conduzidas pelo sacerdote Zarastro. Em grande parte de sua jornada, o herói é acompanhado por um humorístico personagem, Papageno, caçador de pássaros que em nada se interessa pela busca da sabedoria ou de mistérios; quer…

No Mês de Abril: São Jorge

Aqui está uma estranha figura, cujas histórias afundam tão profundamente dentro dos limites lendários que é muito difícil representá-la claramente. Mas São Jorge, inquestionavelmente, era um símbolo de tanta importância, que em diferentes épocas foi apresentado como uma bandeira da Cavalaria, Honra e Sacrifício. Os dados mais conhecidos nos falam de George, o príncipe da Capadócia, que atuou como guerreiro sob as ordens do imperador Diocleciano. Morreu em aproximadamente 303 dC, e desde então é lembrado por sua notável santidade cristã. No entanto, há um fato, mítico ou não, que o manteve fresco na memória de todos os tempos, e é a morte do dragão. Numerosas versões, algumas mais antigas que outras, nos dizem que São Jorge libertou uma princesa do ataque de um dragão, e de lá sua fama como cavaleiro invencível surgiu e de lá ele foi reverenciado como Patrono dos Cavaleiros. E é aqui que o mito apoia nossas buscas e nos ajuda a reconhecer esse herói e santo a quem nos referimos. Simbolicamente, tanto na Idade Média quanto em épocas anteriores, o Dragão é a imagem da matéria, do mal, das forças das trevas que espreitam e estão dispostas a destruir tudo com o fogo das…

A Alma da Mulher

Chamou-me a atenção uma página de um jornal em que aparece o seguinte título “as mulheres avançam”. Sim, é possível. É uma longa história de reivindicações, uma longa luta para que a mulher possa ocupar um papel digno dentro da sociedade. Mas não deixo de perguntar-me, se vamos pelo caminho correto, se teremos escolhido a via justa, porque todas estas reivindicações pedem para a mulher maior desenvolvimento económico, maiores possibilidades de trabalho, maior segurança no trabalho, maior respeito, maior dignidade… mas como se fosse um posto, um sitio dentro da sociedade, como se fosse nada mais que um sitio físico. E a minha pergunta é: Vamos pelo caminho correto? Porque muito poucas vezes se toma em conta, além deste sítio, desta dignidade e deste respeito, a alma da mulher. Apesar de todas estas grandes lutas que vem assinalando a História, sobretudo nos últimos séculos, no momento atual seguimos registando queixas, mal-estar. A mulher não está satisfeita com o papel que tem na sociedade. Não está satisfeita profissionalmente, não o está com as suas remunerações económicas, e ainda desde o ponto de vista humano, diariamente podemos recorrer a todos os meios de comunicação a quantidade de maus tratos a que se…

A Realeza no Egito: as dinastias divinas e humanas

Segundo a tradição, os antecessores dos faraós foram os “espíritos semidivinos”. Os faraós dinásticos e pré-dinásticos eram concebidos como ligações de uma grande cadeia de governantes divinos. Antes das dinastias humanas, houve dinastias divinas. Na religião ou mitologia egípcia, vemos que muitos deuses foram governantes do Egito. O deus Re, pelo que nos reserva dizer, reinou sobre os deuses e homens. Sucedeu-o Shu, que, cansado de reinar, deixou o poder a seu filho Geb e buscou refúgio no céu. Seu reinado foi pouco tranqüilo. O filho de Geb foi Osíris que, quando seu pai se retirou para o céu, o substituiu; e, na qualidade de rainha, sua irmã Isis. Conta-nos que, na história sagrada do Egito, Osíris teve como principal preocupação abolir a antropofagia e comunicar a seus súditos a técnica necessária para fabricar ferramentas agrícolas e a elaboração de trigo e videira, para obter produtos como o pão, o vinho e a cerveja. Fundou o culto às divindades, construiu os primeiros templos, esculpiu as primeiras estátuas, regulamentou as cerimônias e inventou inclusive – nos conta F. Guirand (3) – as duas classes de flautas que deviam servir para acompanhar o canto nas festas e solenidades. Após, edificou cidades e…